28/02/2013
Entrevista: Algas transformam resíduos em energia nos edifícios do futuroA Ennesys criou um sistema que faz uso de algas para transformar resíduos em energia limpa. Numa entrevista por e-mail, o director geral da empresa francesa, Jean-Louis Kindler, explica como esta solução pode ser facilmente aplicada e de forma rentável.
PER: Em que consiste o vosso sistema de transformação de resíduos em energia alimentado por algas e como funciona?
Jean-Louis Kindler: A Ennesys desenha, constrói e comercializa sistemas de produção de energia com base no tratamento de águas residuais. Estes sistemas não exigem terreno disponível e são economicamente rentáveis, dado que combinam duas fontes valiosas: o tratamento de resíduos (CO2 e águas residuais) e a produção de energia. O sistema baseia-se na utilização de luz natural para fazer crescer algas em tanques de cultivo fechados (fotobiorreactor) colocados nos telhados ou nas fachadas dos edifícios, alimentando essas culturas com nutrientes orgânicos contidos nas águas residuais, colhendo-as após o crescimento (24-48h) e transformando essa biomassa e o óleo vegetal numa fonte de energia armazenável para ser usada no local conforme necessário. No fim deste ciclo, a água utilizada para a alimentação das culturas é purificada e pode ser reciclada para usar em autoclismos, regas de jardins ou na limpeza das ruas. Deste modo, estes sistemas geram poupanças significativas de recursos hídricos. Exceto os fotobiorreatoreçs, o restante processo que envolve maquinaria (preparação da cultura, colheita, conversão de energia ...) é agrupado numa sala técnica no local. Uma componente-chave que separa a água da biomassa foi desenhada pela Ennesys e pelo seu parceiro norte-americano OriginOil e repõe até 95 por cento de água limpa (Veja o vídeo aqui). Estes sistemas são projetados para serem integrados em todo o tipo de edifícios, prédios de escritórios, casas, centros comerciais, instalações desportivas, educativas ou de saúde ou outros edifícios comunitários, em barreiras de ruído, etc.
É caso para dizer que transformam algo negativo em algo positivo? Quais são os benefícios deste sistema para o ambiente?
Absolutamente. Os nossos sistemas usam, de modo benéfico, poluentes ou resíduos que de outra forma iriam contaminar o meio ambiente ou exigir energia (deste modo, com potenciais emissões adicionais de CO2) para serem tratados. Os benefícios para o meio ambiente são múltiplos. Por exemplo, evitamos o desperdício que iria contribuir ainda mais para a degradação do meio ambiente, produzimos algo valorável a partir destes resíduos e ao gerarmos esta energia renovável, substituímos o equivalente em energia fóssil.
Quando e como tiveram essa ideia?
Estamos envolvidos há vários anos em engenharia e conceção de sistemas de energia renovável. Quando criámos a Ennesys, no final de 2010, procurámos abordar setores onde soluções de energia renovável não estavam disponíveis, mas onde havia uma grande necessidade delas. O setor da construção está nesta situação e nós projetámos, a partir de tijolos de tecnologia que obtivemos dos nossos parceiros e outros que inventámos nós próprios, um sistema completo adequado para esta aplicação.
Quando é que iniciaram o projeto-piloto na área de La Défense, perto de Paris? Já têm algum resultado?
Nós começámos a trabalhar neste projeto-piloto há cerca de 18 meses. Tivemos de encontrar um local adequado, financiamento, e, em seguida, projetar e construir o sistema. Ele está agora em execução no modo manual e estamos a fazer as nossas primeiras colheitas, enquanto decorre a instalação do sistema de automação que fará deste projeto-piloto um demonstrador totalmente automatizado.
Há muitas pessoas a visitar o projeto-piloto? Se sim, quem são os mais interessados?
Toda a gente está interessada! Primeiro, os potenciais clientes, como promotores imobiliários, arquitetos, empresas de engenharia, mas também académicos, investidores, muitos jornalistas e ainda pessoas envolvidas na indústria de transformação de resíduos em energia.
Este sistema está disponível para qualquer tipo de edifícios?
Basicamente, sim. Por agora, ainda precisamos otimizá-lo para tornar o sistema economicamente viável em edifícios de pequeno tamanho, mas o nosso sistema pode ser aplicado em qualquer tipo de construção, desde que possamos ter pelo menos alguns milhares de metros quadrados disponíveis no telhado e nas paredes.
Quando é que vão começar a vender este sistema e quanto é que vai custar?
Estamos atualmente a entrar na fase comercial. O preço é muito contextual e será determinado mediante um estudo de viabilidade que realizamos para cada projeto.
Tendo em conta que este sistema pode produzir até 80 por cento da energia do edifício, quantos anos é que um investidor terá de esperar para ter o investimento pago (através da redução do consumo de energia)?
Em algumas condições, sim, nós podemos produzir uma parte muito significativa da energia do edifício. Mais uma vez, o retorno do investimento é bastante variável, mas geralmente é melhor do que com sistemas fotovoltaicos.
Têm intenção de apresentar este produto em Portugal em breve?
Sempre que formos convidados, teremos todo o gosto em fazê-lo.
Quanto ao futuro, têm planeado desenvolver um sistema similar ou outro produto relacionado com a energia renovável?
Atualmente estamos suficientemente ocupados com o desenvolvimento e o aperfeiçoamento deste sistema. Estamos a pensar em aplicações adicionais para ele.
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