22/02/2009
Dossier energia Geotérmica nos Açores
A geotermia afigura-se como uma das formas possíveis e viáveis no
aproveitamento do vasto leque de energias que o nosso planeta nos
oferece. Os Açores constituem a zona com maior potencial e afirmam-se
como o principal nome de referência na exploração deste recurso.
Aproveitar a energia limpa e inesgotável que a Terra nos oferece. Este
é o mote que rege a utilização das energias renováveis e um lema que
encaixa à letra na energia geotérmica- Isto porque a geotermia consiste
no aproveitamento energético do calor proveniente do interior da terra,
que resulta do fluxo das camadas mais profundas da crosta terrestre e
da radioactividade natural das rochas. Esta é uma autentica “dádiva
natural”, que é passível de ser aproveitada para diversas aplicações de
usos directos e para a produção de electricidade. No primeiro caso, a
partir de recursos de baixa entalpia – com temperaturas entre 30º C e
120º C – que resultam da circulação de água de origem meteórica em
falhas e fracturas. O aproveitamento deste calor pode ser realizado
directamente para aquecimento ambiente, de águas, pisciculturas ou
processos industriais. No segundo caso, através de recursos de alta
temperaturas – superiores a 120º C – que estão normalmente associadas a
áreas de actividade vulcânica, sísmica ou magmática.
O método mais simples de aproveitamento desta energia consiste na
utilização das águas quentes e vapores naturais que sã emanados do
interior da terra para accionar turbinas que, à superfície, estão
acopladas a alteradores. É também possível rentabilizar este recurso
através de abertura de furos a grande profundidade: este método
consiste no bombeio de água para o interior desses buracos que, ao
descer, aquece e passa da forma líquida a vapor, que, por sua vez, é
utilizado para accionar turbinas que movem os geradores.
O potencial açoriano
Em Portugal continental existem essencialmente explorações de energia
geotérmica de baixa temperatura ou termais, que podem ser divididas em
dois tipos: aproveitamento de pólos termais existentes (com
temperaturas entre os 20 e os 76º C) e aproveitamento de aquíferos
profundos de bacias sedimentares. No primeiro caso, podem-se citar como
exemplo os aproveitamentos em Chaves e S. Pedro do Sul, a funcionar no
segundo destaca-se o projecto geotérmico do Hospital da Força Aérea do
Lumiar, em Lisboa. Esta instalação, a operar desde 1992, obtém energia
através de um furo com cerca de 1500 metros de profundidade, com
temperaturas superiores a 50º C.
As explorações mais interessantes na área da geotermia são realizadas
nas ilhas dos Açores, onde actualmente estão inventariados 235,5 MWt. O
enquadramento geoestrutural do arquipélago junto da Crista Médio
Atlântica, na confluência de três placas tectónicas – americana,
africana e eurasiática -, proporciona uma intensa actividade vulcânica,
bem como outros fenómenos que demostram bem a grande quantidade de
energia que subsiste no subsolo. Por outro lado, a produção de energia
eléctrica nos Açores possui condições peculiares, derivadas do facto de
a região estar fora da rede nacional e europeia, existindo nove
sistemas electroproductores independentes de reduzida escala.
Central de Ribeira Grande
A ilha de São Miguel é aquela onde se verifica actualmente um maior
potencial, e subsequente aproveitamento da energia geotérmica. O
processo iniciou-se em 1973, quando, durante a execução de uma sondagem
geológica efectuada pela universidade canadiana de Dalhouise, foi
descoberto um reservatório geotérmico de alta entalpia com temperatura
superior a 200º C. Anos depois foram efectuados estudos de prospecção
na zona envolvente, que culminaram no arranque, em 1980, da Central
Geotérmica Piloto de Pico Vermelho, uma estrutura que hoje em dia tem
uma potência nominal de 3 MW.
Central
Geotérmica Piloto de Pico Vermelho - Fonte: IGA
No passado mês de Fevereiro, foi anunciada a instalação de uma terceira
estação geotérmica para a produção de electricidade em São Miguel. O
valor total do contrato, atribuído pela SOGEO – subsidiária da
EDA-Electricidade dos Açores – à multinacional israelita Ornat, é
superior a 19 milhões de Euros, e a instalação deverá ficar completa em
19 meses. Paralelamente, deverá também entrar em funcionamento dentro
de quatro anos a primeira estrutura deste género na ilha Terceira, uma
central que terá uma capacidade de produção de 12 MW.
Contudo, a instalação mais importante do arquipélago á a Central
Geotérmica da Ribeira Grande, em São Miguel. Esta estrutura, também
instalada pela Ornat, possui actualmente um capacidade de geração de 13
MW tendo sido instalada em duas fases: em 1994, a Fase A constituída
por dois grupos de turbo-geradores (2x4 MW). O equipamento
electromecânico instalado inclui os sistemas auxiliares
transformadores, disjuntores, grupo Disel de emergência, sistema de
combate a incêndio e a linha de interligação à rede de transportes.
Situada no sector de Cachaços-Lombadas do campo geotérmico, a central é
servida por um parque de quatro poços de produção (CL1, CL2, CL3 e CL5)
que produzem para um colector comum que alimente os permutadores de
calor e um poço de injecção (CL4) destinado a receber o caudal total de
efluente líquido. A tecnologia do equipamento de produção é baseada num
sistema binário, segundo o ciclo de Rankine, e utiliza um fluido
orgânico intermédio. Esta tecnologia de conversão de energia eléctrica
supõe um processo de transferência de calor que se desenvolve em três
níveis: o primeiro é a transferência de calor remanescente do vapor
expandido na turbina (fluido intermédio), o segundo, da água (brine) e
o último, do vapor geotérmico.
Central
Geotérmica da Ribeira Grande - Fonte: Revista Ciência e Tecnologia
O sistema de funcionamento da central pode se descrito da seguinte
forma: o fluido geotérmico bifásico, proveniente dos poços, entra
primeiro no separador, que separa a fase líquida (brine) do vapor
saturado e gases não-condensáveis (NCG). Depois de separado, o vapor
geotérmico entra no vaporizador, sendo uma pequena percentagem expelida
para a atmosfera conjuntamente com gases não-condensáveis, através de
uma válvula de descarga. Em resultado da transferência de energia
calorifica para o fluido intermédio, ocorre a condensação do vapor
geotérmico que é conduzido para a entrada do pré-aquecedor juntando-se
ao brine, participando na transferência de calor entre a fase líquida e
o fluido intermédio. Depois, o fluido intermédio no nível mais elevado
de entalpia, sob a forma de vapor, é dirigido para a turbina, onde se
expande e acciona a turbina acoplado ao alternador. Finalmente, o
fluido intermédio é condensado por arrefecimento a ar, através dos
aero-condesadores que funcionam como a fonte fria, após ter permutado o
calor no recuperador com o próprio fluido de trabalho no início de um
novo ciclo.
No ciclo, o fluido orgânico funciona em circuito fechado, nunca
entrando em contacto com o fluido geotérmico ou com a atmosfera. O
fluido geotérmico, após passagem por um pré-aquecedor, é conduzido numa
linha de descarga para uma caixa em betão, que por sua vez está ligada
ao poço de reinjecção CL4, onde é reinjectado.
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