14/10/2008
Entrevista Prof. Manuel Collares Pereira
Que balanço que faz do Eurosun2008?Considero que foi um sucesso, tendo em conta a comparação com os últimos, em particular o útitmo Eurosun, sentindo-se da comunidade cientifica uma resposta muito positiva ao desafio da EU para 2020 e depois ao da ESTIF/ESTTP para 2030, percepcionado por todos como sendo difícil mas possível e a exigir um esforço enorme, em particular de reforço de orçamentos de I&D quer nos Institutos de Investigação e Universidades, quer nas empresas. Mais I&D e orçamentos reforçados fazem crescer os projectos e o numero de investigadores o que tem, depois e por sua vez, um efeito de induzir mais crescimento…
Foram apresentadas inovações e avanços tecnológicos importantes durante o evento?
Julgo que sim e em varias áreas.
Pode referir alguns delas?
Fica difícil referir coisas especificas, por serem demasiado técnicas e porque só me foi dado assistir a algumas comunicações de um total de mais de 400. Nas comunicações a que assisti, quer na área do frio (solar cooling) , quer na área do armazenamento de energia sob forma térmica, pude finalmente detectar ideias e tendências diferentes das que vinham a ser trabalhadas no passado. Noutras, como a dos novos colectores ou a das aplicações térmicas, mais do que destacar inovações especificas cabe destacar a tendência clara para se desenvolverem os novos colectores que permitem entrar num mercado diferente, para lá da água quente solar, o das temperaturas intermédias ou médias, isto é acima de 80ºC e até 180 ou 200ºC. Houve , em particular, um numero de referencias crescente à tecnologia dos CPCs e/ou dos concentradores “non-tracking” a par de inúmeras soluções inovadoras para a produção de colectores concentradores focalizantes (do tipo cilindro-parabólico, por exemplo).
Esta tendência corresponde bem à estratégia traçada para o futuro imediato da empresa portuguesa AOSOL possuidora da tecnologia CPC, o que a coloca numa posição tecnológica privilegiada face a muitas outras empresas do solar térmico, dado o grau de amadurecimento da tecnologia que possui e dos produtos em desenvolvimento. A AO SOL expressou precisamente isso durante o Congresso nas acções técnicas de esclarecimento que montou durante o mesmo.
Comparando a Europa com os Estados Unidos, porque ainda parece não haver uma ligação forte entre o I&D e a indústria?
Julgo que existe uma relação forte entre o I&D e a Industria na Europa, com o mercado do solar muito mais avançado e consolidado do que nos E.U.A. . Se há queixa a fazer na Europa é a de que os programas de I&D europeus não têm contemplado de forma explicita o solar térmico, por se considerar que os produtos para as baixas temperaturas do mercado actual já constituírem tecnologia madura a não necessitar de financiamento. Contudo é claro que se o mercado deve crescer de ~20 milhões de m2 instalados para ~500milhõs de m2 instalados como se refere na estratégia para 2020, mesmo que a ideia seja só aquecimento de água, isso não vai acontecer sem um desenvolvimento tecnológico forte, com novos colectores, materiais, integração em telhados e fachadas, matérias que carecem de um investimento adequado em I&D,I . A Comissão Europeia começa a manifestar-se sensível a este problema e determinar apoios semelhantes aos que costuma dar a outras áreas onde o financiamento em I&D não se questiona.
Nos Estados Unidos houve um claro abrandamento de interesse na solar para a aplicações térmicas , a partir de mediados da década de 80 do século passado até praticamente aos dias de hoje, com uma actividade industrial nesta área muito escassa e sem dimensão. Começa a sentir-se uma preocupação das autoridades americanas a nível federal e em alguns dos Estados (ex: Califórnia, Florida, Texas) para uma alteração de politica e uma nova preocupação sobre esta matéria, para criar de novo competitividade à industria americana. Empresas europeias de grande dimensão estão a posicionar-se para entrar em força em mercados como o da Califórnia, fazendo valer-se da enorme experiência adquirida nos últimos 10 anos no mercado europeu e isso está estimular a iniciativa americana a não ficar ara trás.
Como avalia a participação portuguesa no evento?
Foi muito parca, embora com alguns trabalhos de qualidade, revelando bem o pouco que se tem investido nesta área nos últimos anos. Não há programas de I&D dedicados nesta área em Portugal o que torna o financiamento das instituições de I&D muito difícil. Para além de que a instituição de referencia, o DER do INETI, está formalmente extinta e não foi substituída ainda pelo anunciado novo instituto, o LNEG- Laboratório Nacional de Energia e Geologia, prolongando-se numa agonia improductiva e desperdiçadora.
Portugal pode seguir os passos de países como a Espanha que, apesar de partir tarde na investigação e desenvolvimento na área do solar, apresenta-se como um dos países que mais evoluiu nos último anos nesta área?
Espanha terá partido um pouco mais tarde que outros países do Centro e Norte da Europa, mas não partiu mais tarde que Portugal, à vinte ou trinta anos atrás. Partiu, isso sim, com uma visão e objectivos mais claros, criando condições para as instituições de I&D mas também para a Industria. O resultado está à vista. Espanha é um dos lideres no solar a nível mundial, na fotovoltaica, na térmica para a electricidade, e na térmica solar para as baixas temperaturas.
Qual o futuro da energia solar em Portugal e na Europa?
Desejavelmente deverá ter uma contribuição muito superior à que tem hoje. Portugal é um dos países da EU em que o recurso solar é mais abundante e, por outro lado, é um dos países com maior dependência externa da importação de combustíveis fósseis, pelo que deveria ser o país com o maior “drive” no crescimento da utilização da energia solar e das renováveis em geral.
Para a electricidade já vai tendo uma politica de renováveis ambiciosa, mas que ainda não integra a energia solar de nenhuma forma significativa, coisa que deveria fazer o mais depressa possível.
Na térmica também está muito carente, já que não é com a obrigatoriedade do solar para aquecimento de água em novos edifícios, ( sector ainda pró cima em crise) que a politica energética vai conseguir chegar a alguma penetração significativa do solar neste sector.
Na Europa a solar térmica, no contexto da ESTTP , a plataforma proposta pela ESTIF para 2030, deverá poder contribuir 50% da energia utilizada no sector dos edifícios, alô que é possível, como dissemos, e que, por si só justifica a realização deste Congresso EUROSUN 2008 , na busca dos melhores caminhos para que se possa atingir tão ambicioso objectivo.
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